Homo Sapiens no Brasil

RECIFE - Um fragmento de crânio fossilizado descoberto na Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (a 525 quilômetros de Teresina, no Piauí), é o mais novo argumento dos arqueólogos brasileiros para contestar a clássica teoria de ocupação do continente americano pelo Estreito de Bering. Segundo pesquisadores da Fundação Museu do Homem Americano, o pedaço de crânio pode ter pertencido a um Homo sapiens sapiens arcaico que, pelos fósseis encontrados em outros continentes, viveu há 60 mil anos.

Pela teoria tradicional, o homem teria chegado à América há 30 mil anos, atravessando uma passagem de gelo entre a Sibéria e o Alasca.


O crânio está sendo analisado no Museu do Homem, em Paris, pelo cientista francês Yves Coppens, considerado uma das maiores autoridades mundiais em paleontologia humana. Coppens disse que as características do fóssil indicam que ele é de um Homo sapiens sapiens arcaico. o resultado do estudo de Coppens será apresentado, esta semana, em Washington.

A grande dificuldade dos pesquisadores franceses é encontrar um método novo que permita a datação correta. Como o pedaço de crânio está petrificado, a datação não pode ser feita pelo método do carbono 14. A datação por carbono 14, que mede a desintegração progressiva desse elemento radioativo absorvido por todas as coisas vivas, só pode ser realizada em material orgânico. Os cientistas compararam então a estrutura e espessura óssea osso com as de fósseis de populações pré-históricas de diferentes continentes.


- A estrutura do pedaço de crânio que encontramos tem todas as características do Homo sapiens sapiens arcaico. Mas, como não datamos, é preciso verificar se não se trata de uma anomalia de um indivíduo de uma população recente. E preciso fazer estudos sobre a probabilidade de ocorrer anomalias assim entre as populações conhecidas. Quanto menor a probabilidade, maior a chance dê o crânio ser arcaico - diz a arqueóloga Niéde Guidon, responsável pelo achado.

RECIFE - o fragmento de crânio foi achado pela equipe de Niéde Guidon, em 1988, mas só agora a descoberta foi revelada. O pedaço tem sete centímetros de comprimento e cinco de altura e foi encontrado no sítio arqueológico de Boqueirão da Pedra Furada, a 35 quilômetros de São Raimundo Nonato. Próximo ao pedaço de crânio, a equipe também encontrou dentes humanos, ainda não datados.

Os fósseis foram encontrados confirmam a antiguidade numa caverna. O pedaço de crânio e os dentes estavam depositados abaixo de uma camada dura, chamado de soalho estalagmítico, datado em dez mil anos. Por isso, os pesquisadores têm certeza de que são fósseis de homens que viveram bem antes desse período.

- Nossas descobertas mostraram que a presença do homem na América é bem mais antiga do que se imaginava nas décadas de 40 e 50, quando foi formulada a teoria do Estreito de Bering.

Essa teoria precisa ser revista - diz Niéde Guidon. Segundo ela, já foram descobertos na Serra da Capivara vestígios de presença humana com 48.700 anos. A presença humana foi comprovada pela localização de restos de uma fogueira forma da por pedaços de madeira apoiados em pedras dispostas em círculos. O carvão vegetal resultante da queima da fogueira foi datado pelo método do carbono 14.