A corrida pela 'partícula de Deus'

Esta semana, uma série de boatos alimentada por um post no blog de um físico italiano incendiou a disputa entre dois grandes centros científicos sobre quem será o primeiro a detectar o Bóson de Higgs, também apelidado de "Partícula de Deus". Segundo Tommaso Dorigo, da Universidade de Pádua, um experimento do Tevatron, acelerador de partículas do Fermilab, nos EUA, teria detectado um "leve sinal" de um Higgs, partícula subatômica que seria responsável pela manifestação de massa de toda a matéria e cuja descoberta confirmaria o chamado "Modelo Padrão", teoria da física de partículas que une três das quatro forças fundamentais do universo - eletromagnética, nuclear fraca e nuclear forte, deixando de fora a gravidade. Juntar todas as quatro forças em uma única teoria unificada é o "cálice sagrado" da física moderna e a confirmação do Modelo Padrão seria uma indicação de que a ciência humana está no caminho certo. E detectar o Higgs é justamente um dos principais objetivos dos experimentos do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), maior acelerador de partículas do mundo, construído a um custo de US$ 10 bilhões pelo Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) na fronteira entre Suíça e França.


"Chegou aos meus ouvidos, de duas e possivelmente independentes fontes, que um experimento no Tevatron está para divulgar evidências de um sinal fraco de um Bóson de Higgs. Alguns dizem que é um evento três-sigma, enquanto outros não fazem alegações precisas mas falam de um resultado inesperado", escreveu Dorigo.

No jargão da estatística, "três-sigma" significa uma probabilidade de 99,73% de os dados estarem corretos. Para que uma descoberta seja confirmada, no entanto, é preciso que o nível de certeza seja de pelo menos "cinco-sigma" , ou 99,9999%. O post de Dorigo, porém, só fez aumentar a especulação em torno do assunto na comunidade científica, com alguns acreditando que a informação estava sendo preservada para ser apresentada durante a Conferência Internacional de Física de Alta Energia, que acontece no fim deste mês em Paris.

Na manhã desta quarta-feira, no entanto, a equipe do Fermilab procurou dar um basta ao disse-me-disse. Num breve texto no Twitter, o laboratório afirmou que "os rumores espalhados por um blogueiro em busca de fama são apenas isso, rumores". Ainda assim, o eventual resultado do Tevatron colocaria o acelerador americano bem à frente na corrida, pois os cientistas já teriam fortes indicações de como e onde procurar pelo Bóson de Higgs. A equipe do LHC, por sua vez, ainda tem relativamente poucos dados sobre os quais trabalhar, já que o acelerador enfrentou problemas na sua estreia, em 2008, e só voltou a operar no fim do ano passado. Além disso, o equipamento europeu só vai funcionar a todo vapor, isto é, promovendo colisões com toda a energia que é capaz de gerar, no mínimo a partir do ano que vem. Até lá, a vantagem aparentemente continuará com o Tevatron.